A conquista dos primeiros passos

A emoção quando ela saiu andando sozinha

"A foto não tem a melhor das técnicas – a emoção da mamãe aqui falou mais alto –, mas o sorriso dessa baixinha aí vai contar uma história. História que começou no alto dos seus 20 dias de vida, quando levei Giovanna à sua primeira sessão de fisioterapia. Você deve ficar curioso para saber como um recém-nascido faz fisioterapia. Pois é, faz. Exercícios levinhos de abaixar e levantar aquelas pernoquinhas fininhas, abrir aquelas mãozinhas minúsculas, massagear aquela pele de seda... É das coisas mais gostosas de fazer, pode acreditar. Costumava fazer as sessões com ela na minha cama: cortinas fechadas para reduzir a claridade, incenso aceso, música clássica baixinha e lá íamos nós. Contato olho no olho, o toque, o cheiro... Terminava nossos exercícios com shantala, a massagem para bebês, que aprendi num livro que ganhei de presente de uma amiga. Eram momentos deliciosos; já sinto saudade. E sei que também sentirei saudade do dia de hoje. 

Por volta das 20h (de 5 de junho de 2018) tirei essa foto que vocês vêem aí. Giovanna se soltou, andou, fez curva, desequilibrou e caiu de bumbum. Chorou. Sorriu. E andou de novo, e de novo, e de novo. Não quer parar. A cada passo, o sorriso pela alegria da conquista, e, ao final, abraço apertado na mamãe e no papai, que mais servem de base para que ela se apoie, se vire e ande para o outro lado. Tudo bem! O que mais a gente quer é isso, não é? Ver o filho caminhar com as próprias pernas, feliz, no seu tempo, do seu jeito, vencendo suas dificuldades – qualquer que sejam elas, em qualquer aspecto, em qualquer idade – porque venceu a si mesmo, ora porque uma chavinha virou dentro dele e um “Eureca”, como diria o matemático grego Arquimedes, aconteceu, ora porque ganhou a ajuda de quem cruza seu caminho e faz a diferença na sua história. Hoje, é sobre isso que quero falar. 

Giovanna tem uns anjos que aparecem na vida dela. A fisioterapeuta Camila é um deles. Leva sempre um largo sorriso no rosto que ninguém tem igual, e um coração que cabe cada um de seus amiguinhos – para ela, as crianças são mais do que meros pacientes. Ela vibra com cada um deles, respeita o tempo de cada um, sabe temperar firmeza e carinho, com ingredientes preparados para cada um. Deixa tudo leve e divertido! E na hora que você acha que a coisa não está indo muito bem, ela te faz ver que não poderia estar melhor! Foram dois anos de sessões toda semana: aprende a firmar o pescoço, agora a rolar, a se sentar com apoio, a se sentar sem apoio, a engatinhar (bem, no caso da Giovanna, andar de bumbum), ficar em pé, agora coordenação, equilíbrio, força, os primeiros passos e agora vai. Não foi. Veio o mais difícil, o medo de soltar da mão e caminhar sozinha. Foram meses andando apenas de mão nada. Mas, cá entre nós, não deve mesmo ser fácil chegar nesse planeta aqui, ver tanta gente apressada correndo de um lado para o outro, passando na sua frente sem te notar, tantos caminhos a tomar e você sem saber se vai para a direita ou para a esquerda, que tipo de piso, se está molhado, se é irregular, se tem esforço para subir ou cuidado para descer, olha o buraco, a quina! Um tombo. Dois. Três... O medo. Dela e meu, claro. Ninguém quer ver o filho se machucando. E vieram os anjos ajudar Giovanna a trabalhar este medo, ajudá-la a entender que, apesar de tanta coisa assustadora, há caminhos de chão firme, claros, tranquilos e, principalmente, com pessoas que olham para além do próprio umbigo e enxergam quem está ao lado, mais que isso, sentem que podem ajudar, querem ajudar e estendem a mão, com carinho, ternura e alegria. E Giovanna, como que reconhecendo neles algo que a fazia confiar, deu a mão. São pessoas como a fisioterapeuta Camila, que apresentei aqui, a professora Jô e a professora Cleia – ou Quéia, como dizem as crianças. Olha, não canso de dizer, sabe quando você olha para alguém e sente uma coisa boa? É isso. A Cleia é mais que professora, é uma mãe para os pequenos. Doce no falar, no olhar, no agir. Carinhosa, dá aqueles gostosos abraços apertados e as crianças se jogam em seu colo. Foi professora do meu filho Tiago também, e até hoje ele fala dela com carinho. Ela é assim, cuida de cada um como se fosse seu. Ela se doa para o outro. É mais uma pessoa com um coração enorme, que não cabe no peito. E não mediu esforços para ajudar Giovanna. Conversou com terapeuta, com outras professoras e coordenadoras, pensou em mudar a sala, fazer adaptações, incentivou, deu coragem, estimulou, sempre num ambiente de conforto e alegria, e, claro, dentro do limite da Giovanna. Tudo era brincadeira! Aliás, é de brincar que a molecada gosta... Amigos meus e do Gustavo, o pai da Giovanna, muitas vezes sentaram em roda e chamaram Giovanna de um lado para o outro, cantaram música, deram brinquedos. Ela? Dava risada! Se divertia. Outros aproveitam qualquer oportunidade, qualquer encontro mesmo que rapidinho, para dar um abraço apertado nela, dar palavras de confiança... São amigos. São pessoas de coração grande. Mesmo coração do irmão da Giovanna, o Tiago. Ah, ele é o herói dela, não tem pra ninguém! Cada passo dele, ela acompanhava de perto. Cada pulo, cada sobe, desce, gira, senta, cai, levanta... Às vezes atenta, concentrada, às vezes dando risada dele e com ele. E ele, como o bom irmão que é, estendia a mão. Amizade. Amor. Bonito de ver. 

Anjos. Anjos que passaram pela vida da Giovanna e a ensinaram. Ensinaram a mim também: a paciência, para esperar um tempo que não é o meu; a criatividade, para formular estratégias de estímulo no ponto em que mais é preciso; a força, para driblar os momentos de cansaço extremo; a compreensão, para entender o limite do outro; o respeito, uma vez que se trata do rio da vida de cada um; a doação, por entender seu papel no processo; e o amor, caminho para a felicidade. 

Por tudo isso, hoje vim agradecer a cada um que estendeu e estende a mão para Giovanna e minha família. Vocês fazem a diferença. O sorriso da Giovanna nesta foto diz tudo - Camila Castro / Blog Um em Mil".

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