Se amamentação já é um assunto que ora ressoa como um encantamento, ora como algo assustador e impossível de se fazer, imagine pensar no aleitamento de uma criança com Síndrome de Down? Tabu na certa. Mas, calma, é possível amamentar seu filho que nasceu com um cromossomo a mais. E sou testemunha. Amamentei Giovanna até os 8 meses, parei porque já não produzia leite suficiente para saciar a fome da bichinha.

A principal dificuldade decorre da hipotonia, que é a falta de força muscular em todo o corpo, inclusive na face. Dependendo do grau desta hipotonia, será mais ou menos fácil para o neném sugar o seio da mamãe, bem como manter a sucção e sustentar sua própria cabecinha.

Com a Giovanna, eu segurava firme a cabecinha dela contra o seio. No início, foi bem difícil porque, quando eu fazia essa pressão, ela, num reflexo, empurrava a cabeça para trás, eu segurava de novo e ela ia para trás. Ela segurava o movimento de sucção por 2 segundos (literalmente!) e já soltava. E começava a luta de novo. Assim a gente ficava durante uns 40 minutos, fechadas no quarto dela. Era como ir numa academia fazer exercícios de braço sete ou oito vezes por dia, durante cerca de uma semana! Confesso que tinha dores musculares e cheguei a chorar achando que não íamos conseguir. Respirei fundo e insisti, pensando em todos os benefícios que a amamentação traria para ela e que ali começava uma vida nossa juntas, de muitos desafios e conquistas pela frente. Esse era só o primeiro. Então, bora lá! E ela começou a fortalecer os músculos. Os 2 segundos passaram a ser 4, 6, 8... Lembro de mandar um áudio para uma grande amiga contando quando ela segurou direto por 10 segundos! Eu chorava de alegria! Era uma conquista! A cada mamada, melhorava. Em cerca de 15 dias já estávamos bem, ela e eu. Ela mamava tranquila e eu, curtia muito aquele momento de carinho, de colo quentinho, de pele com pele, de olho no olho... Éramos só nos duas! Valeu a pena.

Eu soube como ajudar Giovanna – e a mim mesma – porque recebi algumas dicas que, agora, divido com vocês. Talvez seja bom você tê-las em mente, caso enfrente alguma dificuldade. Ó, importante dizer, não necessariamente você terá dificuldade, hein? Pode ser que tirem de letra! O meu foco hoje é dar informações para ajudar quem precisa, neste aspecto.

1)      Informe-se sobre como é amamentar. E isso vale para qualquer mamãe, hein! Sugiro que estude, converse com as amigas e os pediatras sobre amamentação em livre demanda ou a cada 3 horas; a forma correta de fazer a pinça; as posições para amamentar; e a massagem pré-mamada. Com isso em mãos, você estará tranquila e pode experimentar o que melhor se encaixa para você e seu filho.

2)      Se o seu filho não tiver o reflexo de sucção, você pode ensiná-lo colocando seu dedo mindinho limpo na boquinha dele e tocando o céu da boca dele.

3)      Enquanto ele vai aprendendo a sugar, você pode usar uma seringa pequena para oferecer o leite ou uma sonda própria de amamentação que é acoplada ao seio materno, como um canudinho.

4)      Pode também utilizar o bico de silicone com dois furinhos, pelo menor tempo possível. Vou explicar: este recurso facilita a mamada porque exige menor esforço de sucção se comparado à amamentação direto no seio. Então, o bebê se acostuma a empreender uma força na mamada. Quando retirado o silicone, ele pode ter dificuldade. Por isso, a orientação dos profissionais é, aos poucos, ir deixando este recurso de lado. Como? Intercale nas mamadas ou comece a mamada com ele e retire no meio. Devagarzinho você vai sentindo a reação do seu filho e a evolução dele.

5)      Na posição de mamar, as mães costumam apoiar a criança na dobra do braço e o corpo fica encostado na barriga delas, deixando livre a outra mão. Normalmente, os recém-nascidos com Down não conseguem segurar muito tempo o seio e você vai precisar ajudar seu filho, como eu fiz com Giovanna. Talvez tenha que apoiar o corpo dele com uma almofadinha, um travesseiro ou um rolinho de cobertor.

6)      Se o seu filho se engasgar muito, o que também pode acontecer por alguma dificuldade ou problema nas vias respiratórias, você pode tentar uma posição em que pescoço e garganta fiquem numa angulação mais alta que o seio. Pode ser também apoiando com travesseiros. As enfermeiras especializadas em aleitamento têm ótimas orientações sobre as posições.

7)      Pode ser que o bebê não consiga posicionar bem a linguinha, deixando-a suspensa. Neste caso, você poderá até ver leite escorrendo pela lateral da boquinha dele. Uma dica é baixar o queixinho do seu filho quando for colocá-lo para sugar ou fazer movimentos circulares no queixinho enquanto ele estiver sugando. Claro que de forma leve e esporádica, ou o momento da mamada deixará de ser algo prazeroso. Já pensou alguém ficar de cutucando enquanto você come? Não dá, né!

8)      Caso o seu filho tenha cardiopatia, é necessário o acompanhamento do cardiopediatra porque ele vai avaliar quão cansado o bebê fica na mamada (dois indicativos são suor e arroxeamento da pele) em razão do esforço empreendido, bem como o desenvolvimento dele. Com isso, vai lhe orientar. Talvez seja importante amamentar por tempo menor e mais vezes ao dia.

9)      Profissionais de fonoaudiologia são incríveis também nesta fase porque eles ensinam movimentos para fortalecer os músculos da face.

10)   Se o seu filho foi para a UTI ou o berçário assim que nasceu, você pode tirar o colostro e, depois, o seu leite para oferecer a ele numa seringa, copinho ou conta-gotas. Peça ajuda a uma enfermeira na maternidade, ela poderá lhe ensinar.

Sei que às vezes não é fácil, mas tente manter a tranquilidade e a confiança. A meu ver, tudo começa aí. E saiba que, se você não conseguir, tudo bem também. O aleitamento é fundamental? Sim, é! Em especial nas crianças com Down, ele ajuda no fortalecimento da face, na posição correta da língua dentro da boca e na articulação da fala, além de uma série de benefícios nutricionais, de saúde e dos laços afetivos com a mamãe. No entanto, não é porque a criança não amamenta que terá um monte de problemas, físicos ou psicológicos, ou sua relação com a mamãe estará comprometida. Claro que não! Tem muitas formas de uma criança se bem desenvolver e mais, de ser feliz! Faça o que o seu coração te mostrar. E seja feliz você também!

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