Eu escolhi felicidade. E você?

Giovanna, com oito meses
Era dia 13 de outubro de 2015 quando, num sonho, eu vi aqueles olhinhos amendoados pela primeira vez. Eles traziam em si o brilho da vida e transmitiam paz, aquela que nós não conseguimos traduzir porque se sente fundo no coração, como que vinda de um lugar que não esse e, portanto, sem palavras no nosso dicionário. Eles me olharam bem profundo e falaram comigo, mandaram um recado que eu só entendi em 21 de março do ano seguinte, dia do ultrassom morfológico. Aqueles olhinhos pretos e doces, que mais pareciam duas jabuticabas, vieram contar que, pelos próximos anos, meu mundo seria bem mais colorido, de amor e de oportunidades de crescimento que caberiam a mim, e somente a mim, enxergar.
Foi assim, num sonho às 1h30, que eu conheci a minha filha, como se alguém nos apresentasse na exata semana em que eu engravidei. Eu não a reconheci naquele momento, mas senti que ali estava reservado um presente divino, presente que desembrulhei em 6 de julho de 2016, dia do seu nascimento. Ali reconheci Giovanna e aqueles olhinhos puxadinhos. Na forma de uma criança com Síndrome de Down, aquele Eu se mostrou grande, brilhando em paz, força e amor. Naquele segundo ela parecia me dizer que estava tudo bem. E estava mesmo. Eu havia recebido um anjo. Um anjo.
Talvez a escolha dela de ter vindo com Síndrome de Down tenha sido para mostrar a esse mundo caótico, doente, que é possível sim estar entre os diferentes, respeitando e compondo as diferenças de forma a vivermos em harmonia. Talvez ela tenha vindo mostrar o quão fortes podemos ser para, com coragem, olhar para dentro de nós mesmos e enxergarmos nossos medos, nosso egoísmo, ver quão rasas são as nossas paixões e, então, decidirmos trabalhar para nos tornarmos pessoas melhores, capazes de vibrar e emanar sentimentos, termos condutas de um mundo melhor. Talvez ela tenha vindo mostrar algo grandioso: o amor, que transcende esse espaço e essa forma física que conhecemos e que pode inundar o nosso espírito, se nos permitirmos. Amor. Algo muito além do que dizemos sentir e que eu nem me atrevo a tentar explicar, mas que já começo a vislumbrar de um jeito diferente. Ele é diferente, nos faz diferentes. Amor. Cada vez mais posso ver que é esse mesmo o caminho que nos levará para mais perto do Pai, assim como Cristo já nos mostrou - e talvez a minha filha tenha vindo escancará-lo para mim.
Por isso, não quero fazer apologias, defesas, cobrar direitos e deveres de quem quer que seja. Isso é muito pequeno perto do que podemos alcançar. Quero é mostrar que temos sempre nas mãos o livre arbítrio para escolha, neste caso, entre sofrimento e felicidade. Eu escolhi a felicidade. E você?


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